Quando a Misericórdia Incomoda

“Então, Jonas saiu da cidade, e assentou-se ao oriente da mesma, e ali fez uma enramada, e repousou debaixo dela, à sombra, até ver o que aconteceria à cidade.” Jonas‬ ‭4‬:‭5‬ ‭ARA‬‬
https://bible.com/bible/1608/jon.4.5.ARA


Introdução

“Misericórdia não! Eles não merecem!” A história do profeta Jonas é conhecida por sua relutância em obedecer a Deus. Enviado para pregar arrependimento à violenta cidade de Nínive, ele inicialmente foge. Após o episódio no ventre do grande peixe e um chamado reiterado de Deus, Jonas finalmente cumpre a missão — mas seu coração continua resistente.

Ele prega. Nínive se arrepende. Deus perdoa. E Jonas… fica indignado.

Por quê?

Porque, no fundo, Jonas não queria que a misericórdia triunfasse sobre o juízo. Ele desejava ver a destruição da cidade. Esperava um espetáculo de justiça. Mas Deus escolheu perdoar. E isso revela um abismo entre o coração do profeta e o coração do Pai.

Deus é grande em misericórdia
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A síndrome de Jonas: quando os “crentes” se tornam fiscais de Deus

Muitos que vivem hoje dentro da igreja reproduzem a mesma atitude de Jonas. Fazem o que “tem que fazer” — vão aos cultos, exercem cargos, citam versículos — mas não amam o que Deus ama. Não se alegram com a salvação do perdido. Não se comovem com a conversão do pecador. Criticam, apontam, julgam… mas não curam, não acolhem, não abraçam.

Alguns, como Jonas, obedecem exteriormente, mas vivem amargurados por dentro. Estão sempre irritados, impacientes, reclamando do pastor, da igreja, das músicas, do calor, do som. Pessoas amargas que já não têm prazer na graça — nem sobre si, nem sobre os outros.

Outros se assemelham aos fariseus do tempo de Jesus: frequentam a sinagoga, mas rejeitam o Messias. Conhecem a letra, mas não conhecem o Espírito. Cumpridores de ritos, mas distantes da cruz.

E o resultado? Gente ferida ferindo mais gente. Gente vazia cobrando dos outros aquilo que nem elas mesmas têm. Igrejas cheias de atividades, mas com poucos corações verdadeiramente rendidos a Cristo.

O perigo da religiosidade sem misericórdia

A obediência forçada, sem amor, cria servos frustrados. O ativismo espiritual sem devoção cria soldados cansados. O legalismo sem o Espírito gera apenas aparência de santidade, mas não transforma o caráter.

É exatamente isso que vemos em Jonas. Ele conhecia a voz de Deus. Sabia como pregar. Mas não aceitava a soberania da misericórdia divina. Seu coração era egoísta, rancoroso e nacionalista. Queria um Deus que se encaixasse nos seus desejos, não um Deus que ama até os ninivitas.

Quantos hoje, como Jonas, servem um Deus do próprio molde? Um Deus que perdoa só quem eles acham que merece, que abençoa só quem pensa igual, que acolhe só quem está limpo, arrumado, “de terno e gravata”?

Deus pergunta: “É razoável essa tua ira?”

Ao final do livro, Deus confronta Jonas com uma pergunta desconcertante:

“É razoável essa tua ira por causa da planta?” (Jonas 4:9)

Jonas se irou porque Deus havia tirado dele uma sombra confortável. Mas não se importava com os milhares de vidas humanas que seriam destruídas em Nínive. Sua compaixão era seletiva. Sua dor era autocentrada. Sua piedade era conveniente.

É uma denúncia direta a todos nós: quando nos importamos mais com nosso conforto do que com a salvação das pessoas, perdemos o coração de Deus.

Existe cura para a amargura dos “Jonas” modernos?

Sim. E essa cura se chama rendição verdadeira.

1. Voltar ao primeiro amor.

Muitos crentes amargurados um dia já foram apaixonados por Jesus. Mas o tempo, os escândalos, os traumas, os fardos… foram endurecendo o coração. É preciso voltar. Lembrar o dia do encontro. Renascer por dentro.

2. Arrependimento da religiosidade morta.

Assim como Nínive se arrependeu dos seus pecados visíveis, o crente amargurado precisa se arrepender do pecado invisível: da autossuficiência, do orgulho espiritual, da falta de perdão.

3. Desejar o coração de Deus.

Jonas conhecia a vontade de Deus, mas não compartilhava do Seu coração. A cura começa quando pedimos: “Senhor, quebra meu coração pelo que quebra o Teu.”

4. Submissão amorosa.

Servir sem amor é insustentável. Mas quando entregamos nossa vontade ao Senhor com alegria, o fardo deixa de ser pesado. O jugo é suave porque o coração é leve.

Conclusão

O livro de Jonas termina abruptamente, com um silêncio do profeta e uma fala final de Deus. Não sabemos se Jonas mudou. Mas sabemos que Deus continua chamando seus filhos — mesmo os mais relutantes — a participarem de Sua obra redentora.

Que nunca sejamos como Jonas, sentados à sombra de nossa própria justiça, irritados com a graça dos outros. Mas que sejamos como Jesus, que vendo a multidão, “se compadeceu dela”.

“Quero misericórdia, e não sacrifício.”— Oséias 6:6

Deus te abençoe muito muito!

Bjs

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